O fenômeno do populismo está ligado a formação e diversificação das sociedades da América Latina do século XX. O populismo foi um fenômeno muito marcante na década de 30 no mundo e principalmente na América Latina, foi aqui que vivenciamos as formas mais diversas e peculiares desse fenômeno histórico e político.
Atualmente o populismo possui uma conotação negativa, pois a imagem associada ao populismo é de uma liderança política ou de um movimento social que é marcado pela manipulação das massas em proveito de um projeto de poder.
É importante dizer que nem sempre foi assim, sendo objeto do presente artigo, visualizaremos como o populismo teve uma conotação diferente da nossa época, não é à toa que foi um fenômeno marcante em diversos países na América Latina, e que ainda hoje exerce influência no atual cenário político, exemplo disso é a pauta do projeto absorvente grátis, além do famigerado bolsa família que vigora alguns anos aqui no Brasil.
A mudança das palavras, os termos, das ideologias, dos fenômenos históricos e políticos que mudam de conotação ao longo da História, é uma amostra de como devemos ter cuidado na análise de um determinado período histórico, por mais que tenhamos familiaridade com certos termos, a mudança no seu sentido é de suma importância para entender a sua inserção em um período passado.
O mesmo vale para liberalismo, comunismo, nazismo e fascismo, o caso do fascismo é o mais latente hodiernamente, em razão de, o que um dia foi um fenômeno histórico e político, hoje passou a ser um palavrão político, uma palavra depreciativa para adjetivar os nossos adversários no campo da política. Com certeza vale a pena um estudo mais aprofundado sobre isso, relacionado com a filosofia da linguagem, mas por ora, esse não é a ênfase desse artigo.
Sou levado a pensar que o populismo é uma forma de governar, uma forma de um determinado líder se manter no poder, sendo paternalista com as massas e ao mesmo tempo se mantendo próximo as elites. Pode haver analises que classificam o populismo como ideologia, e isso não seria nenhum absurdo, não tenho o propósito de esgotar o estudo sobre esse tema que se faz a cada dia mais importante de entendermos, pois se torna cada vez mais difícil separar populismo de democracia, as duas coisas parecem andar lado a lado.
Um dos primeiros a estudar e analisar o populismo foi o sociólogo italiano Gino Germani, que trabalhou em um análise sobre o peronismo na Argentina. Segundo Germani, o populismo foi uma etapa necessária para transição da sociedade tradicional para uma sociedade moderna, pois essa passagem de uma sociedade tradicional para sociedade moderna na América Latina, se deu muito rápido, não houve tempo para que os conflitos econômicos e sociais pudessem ser processados como aconteceu nos países industrializados. Germani pensava o populismo como uma variante do fascismo, e não como uma ideologia genuína ou forma de governo.
Foi na Rússia que o termo ‘’ populismo’’ foi usado pela primeira vez, ao menos essa é a tradução feita da palavra narodnitchestvo, derivada do Narodnya, que significa ‘’ povo!.’’ O termo foi utilizado para denominar o grupo Vontade Popular, um grupo de ação direta que pretendia atuar em conjunto com o povo, o grupo era visto como uma agrupação refratária ao capitalismo, tinha como objetivo voltar a comunidade camponesa originária . Após o seu auge nas décadas de 1860 e 1870, o grupo Vontade Popular foi perdendo importância.
Para situar de uma forma melhor, o populismo ao longo da história, os professores Paul Drake e Noberto Ferreras, estabeleceram uma periodização do populismo ao longo do tempo, as três primeiras foram elaborados por Paul Drake e as demais por Noberto Ferreras.
- Precoce: esse período pode ser entendido como Reformismo ou Radicalismo das classes médias, período que se dar nas primeiras décadas do século XX, tendo como seus principais representantes: Yrigoeyn na Argentina, e Battle e Ordoñez no Uruguai.
- Clássico: período das décadas de 1930 a 1950, aonde temos os nomes mais conhecidos do populismo, Cárdenas no México, Getúlio Vargas no Brasil e Juan Domingo Perón na Argentina. Esse período é marcado pela mobilização das massas urbanas, a conformação do Estado de bem-estar social e o avanço industrial.
- Tardio: em uma etapa posterior, já visto como os últimos expoentes de um processo que caminhava para sua extinção. Sua característica principal residia na tentativa de retornar nas políticas anteriores, em vez de tentar políticas novas, situado na década de 1970 com novamente Perón na Argentina e Luís Echeverría no México.
- Neopopulismo: quando se pensava que os populismos estivessem extintos, os pesquisadores das ciências sociais retomaram essa categoria para denominar os processos políticos da década de 1990. Os nomes mais conhecidos são: Carlos Menem na Argentina e Alberto Fujimori no Peru que governaram seus países ao longo da década de 1990.
- Populismo Radical: esse termo passou a ser utilizado para as políticas mais recentes na América Latina , pois os governos continuavam mantendo uma mobilização social e forte engajamento político .
Em suma, podemos notar que o populismo teve vários sabores na América Latina, não foi um fenômeno heterogêneo, cada país com as suas próprias particularidades; problemas sociais, atores políticos, se direcionou de forma diferente, apesar que em todos os casos podemos notar pontos em comum, a mobilização das massas, um líder que ‘’resolve’’ as injustiças sociais, a forte crença nas capacidades de seus líderes, chegando até a acreditar que esses líderes tivessem capacidades sobre-humana. Vale lembrar do epíteto dado a Getúlio Vargas de pai dos pobres e mãe dos ricos, pois faz jus a realidade, os populistas amam tanto os pobres que os multiplica.
Nos próximos artigos vamos analisar alguns casos marcantes do populismo clássico, o peronismo na Argentina, Cárdenas no México, e por fim, o populismo no Brasil com Getúlio Vargas, o criador da politica pão e circo para os pobres aqui no Brasil, que mais a frente foi sofisticado e aprimorado por Lula.
Referências
Ferreras, Noberto. A Socidade de massas, O Populismo, 2011.